domingo, 3 de abril de 2011

POETA, MEU PECADO



Nunca sei se você existe, mas ouço sua voz, quando te busco nas horas plurais
E ela me acorda rouca, não parece morta, tão repleta de silêncios e gritos que violam tímpanos
Entram ricocheteando faíscas que saem pelos olhos. 
Fulgor fecundado em retinas de mulher!
Há explosões subterrâneas nos pulmões que atinge a pele com tremores, a respiração é quase um suspiro, quando seus versos fadados ao crime me invadem o esqueleto infernalmente.
Espanto-me deveras, com seis sentidos os desejos surreais, de suas mãos em meu corpo escrevendo o que sempre quis dizer, já que suas mãos apenas existem de barro seco e em distância oceânica.

Eu poderia amá-lo e até penso que amo o escuro dos seus olhos, de cidades e marés convulsionadas, que me arrastam por monumentos antigos até a praia, onde nossos espíritos recitam a embriaguês. 
Amo seus rumores em prosas e versos!
Deixo seu nome povoar toda memória que me sobra, como o vinho ocupa a taça, para além da velhice que se faz apurada. Invade-me seu sabor.
Os poetas são como caldeirões de feiticeiros fervilhando veneno, salamandras e morcegos, no fogo pretensioso, a ilusão abrasadora que enlouquece os homens. 
Quem há de rouba-lhes a poção?
Quem há de vivê-los sem doses de abismos?
Nasci com excessos e é de minha natureza a paixão, assim não suportaria apenas lê-lo em páginas, sem medo tenho que atravessá-lo o coração.



AUTOR: IRA BUSCACIO


FONTE: FACES DO POETA

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